José Rubens Lima Jardilino, Dr. Em Ciências Sociais, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, MG – Brasil.
A racionalidade existente nas políticas educacionais do país tem considerado o docente como agente essencial para o avanço da qualidade do processo de ensino e aprendizagem, enquanto também tem demandado que o trabalho e a capacitação desses profissionais sejam avaliados. Vem daí a inspiração para elaboração de planos de carreira que privilegiam a adoção da Avaliação de Desempenho Docente (ADD). No entanto, a crescente inserção da ADD nos planos de carreira do magistério tem acarretado diversos posicionamentos entre os professores. Essa realidade requer, por parte das Secretarias de Educação (estaduais e municipais), uma maior atenção na forma como ocorre a elaboração, a implementação e o retorno regularizado das avaliações para os docentes, com vista a propiciar o seu desenvolvimento profissional.
Percebe-se, ainda, que a razão de ser da ADD, além de fomentar resistências de várias naturezas por parte dos docentes, tem afetado o cotidiano das escolas e gerado um recrudescimento da discussão em volta da questão. Com a implementação da política de ADD em diversas secretarias de Educação, torna-se evidente a existência de certa suspeita e de ceticismo entre os docentes, conduzidos por um clima de “mudança legislada” e não de “mudança negociada” (DAY, 1999, p. 97). Tais mudanças estão ocorrendo de fora para dentro das escolas, o que dificulta as mesmas de contextualizarem com suas diversas realidades.
Frente a essa complexa realidade, o artigo “Avaliação de Desempenho Docente: culpar, punir ou desenvolver profissionalmente” publicado na Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (v.29) investiga a política de ADD como elemento que se relaciona com o Desenvolvimento Profissional Docente (DPD) e com a possibilidade de mudanças significativas no processo de ensino e aprendizagem das redes de ensino.
O estudo empenhou esforços analíticos, a partir da realização de grupos focais com 27 professores da Educação Infantil e Ensino Fundamental I da Educação Básica da rede pública municipal de Ensino da cidade de Mariana-MG. Trata-se de uma pesquisa desenvolvida junto ao Grupo de Pesquisa Formação e Profissão Docente (Foprofi) do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Ouro Preto, certificado no diretório de grupos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Frente aos dados coletados, os autores apontam para a necessidade de a ADD ser vista como um instrumento de DPD, que: a) possibilite a participação dos docentes na elaboração e na implementação de políticas públicas; b) acrescente valor às aprendizagens dos alunos; c) fortaleça o espírito colaborativo entre escola, profissionais da Educação e secretarias de Educação; d) forneça maior credibilidade à profissão docente; e) colabore com a reestruturação do contexto socioeducativo.
Não obstante, a aceitação da necessidade e da utilidade da ADD pelos professores serão questionadas e esse tipo de avaliação ficará marcada apenas como um dispositivo classificatório capaz de gerar tensões e exasperações entre os professores. Com efeito, os professores investigados acreditam que a ADD deve estar mais orientada para o seu desenvolvimento profissional, sobretudo no se refere ao seu processo formativo contínuo, e não tanto para o ajuizamento do seu mérito.
Referências
DAVIS, C. L. F.; NUNES, M. M. R. and ALMEIDA, P. C. A. Formação continuada de professores: uma análise das modalidades e das práticas em estados e municípios brasileiros. São Paulo: Fundação Victor Civita: Fundação Carlos Chagas, 2011.
DAY, C. Avaliação do desenvolvimento profissional dos professores. In: ESTRELA, A.; NÓVOA, A. (orgs.). Avaliações em educação: novasperspectivas. Porto: Porto Editora, 1999. p. 95-108.
DAY, C. Desenvolvimento profissional de professores: os desafios da aprendizagem permanente. Porto: Porto Editora, 2011.
REIFSCHNEIDER, M. B. Considerações sobre avaliação de desempenho. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2008, vol.16, n.58, pp.47-58 [viewed 13 April 2021]. https://doi.org/10.1590/S0104-40362008000100004. Disponível em: http://ref.scielo.org/9pfn9j
Para ler o artigo, acesse
JARDILINO, J. R. L.; SAMPAIO, A. M. M. and OLIVERI, A. M. R. Avaliação de desempenho docente: culpar, punir ou desenvolver profissionalmente?. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2021, vol.29, n.111, pp.318-337 [viewed 13 April 2021]. https://doi.org/10.1590/s0104-40362021002902701. Available from: http://ref.scielo.org/cpmk6n
Links Externos
Do grupo de Pesquisa: Formação e Profissão Docente: https://foprofiufop.wixsite.com/foprofi
Ensaio: avaliação e políticas públicas em Educação – ENSAIO: https://www.scielo.br/ensaio
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