Ana Cecília Cossi Bizon, é editora-adjunta de Trabalhos em Linguística Aplicada (TLA), docente do Departamento de Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil.
Viviane Veras é editora-chefe de Trabalhos em Linguística Aplicada (TLA), docente do Departamento de Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil.
Nesta Semana Especial do Blog SciELO Humanas, o periódico Trabalhos em Linguística Aplicada (TLA) convida o(a) leitor(a) a percorrer dez artigos recentes. Os últimos meses têm sido um período que, pela intensidade dos desafios gerados tanto pela pandemia de covid-19 quanto por projetos políticos autocráticos de Estados ao redor do mundo – e especialmente no Brasil –, alarga nossa experiência de temporalidade, obrigando-nos a viver um repetido cotidiano de superação de limites, enquanto se decreta a necessária invenção de novas formas de sobrevivência.
Se, por um lado, reconhecemos 2020 como um triste marco do desrespeito aos direitos humanos e à liberdade de expressão, e da subalternização do conhecimento científico no Brasil, por outro, reafirmamos 2020 como o momento de comemorar os 30 anos da ALAB – Associação Brasileira de Linguística Aplicada –, instituição central na consolidação de uma agenda científica politicamente comprometida com valores que, neste momento, encontram-se sob forte ataque.
Da mesma forma, em seus 38 anos de funcionamento, a TLA vem se construindo como espaço de agenciamento científico e social, o que implica atender a chamados de resistência como os que ora se apresentam. Aqui, pontuamos dois aspectos aos quais essa resistência se alinha. Primeiro, a um esforço de internacionalização da pesquisa, que, sob uma perspectiva multilíngue, temos procurado consolidar com publicações não apenas em português, com preferência pelo inglês, mas também em espanhol, francês e italiano. Acreditamos que oferecer uma produção científica em diferentes línguas não apenas contribui para democratizar o conhecimento, mas também para, de fato, autorizá-lo, dado que, nas ciências humanas, línguas e culturas estão intimamente ligadas. O segundo aspecto diz respeito à emergência contínua de problemas de convivência com as desigualdades e, por isso, a TLA segue firme em seu propósito de priorizar trabalhos “de abrangência social e política, e [que] estejam diretamente vinculados aos debates contemporâneos”.
A Semana Especial da TLA coloca em tela uma série de artigos que julgamos afinados com a missão do periódico e do campo aplicado nos estudos da linguagem em explicar problemas sociais que se constituem na linguagem. O primeiro deles é “Talking parts, talking back: fleshing out Linguistic Citizenship”, coescrito por Christopher Stroud e uma equipe de pesquisadores filiada ao Centro de Pesquisas em Multilinguismo e Diversidades da Universidade do Cabo Ocidental, África do Sul. Esse trabalho integra o dossiê comemorativo dos 30 anos da ALAB, “Resistências em Práticas Discursivas de Contestação em Democracias Frágeis” (v. 59 n. 3, 2020), coorganizado por Luiz Paulo da Moita Lopes (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Joana Plaza Pinto (Universidade Federal de Goiás), que reúne trabalhos voltados ao estudo de práticas discursivas em que emergem agenciamentos de resistência no enfrentamento à precarização da democracia, em diferentes partes do mundo.
Seguimos apresentando o artigo “How social media affords populist politics: remarks on liminality based on the Brazilian case”, de Letícia Cesarino (UFSC), para, então, trazermos o texto “Práticas de pesquisa de letramentos em línguas(gens) e domínios sociais diversos: perspectivas internacionais”, assinado por Paula Tatianne Carréra Szundy (UFRJ), Maria Lúcia Castanheira (UFMG) e Judith Green (Universidade da Califórnia). Contribuem também para este momento de partilha de conhecimentos, os trabalhos “Letramento sem fronteiras: as minúcias de granularidade fina das interações sociais que tanto importam (também para promover letramento em saúde)”, de Ana Ostermann, Minéia Rezza e Roberto Perobelli; “Threads of a hashtag: entextualization of resistance in the face of political and sanitary challenges in Brazil”, de Marilda do Couto Cavalcanti e Ana Cecília Cossi Bizon (Universidade Estadual de Campinas); e “Performativity of race intersected by gender and sexuality in a conversation circle among black women”, de Glenda Cristina Valim de Melo (UFRJ).
Fechamos a Semana Especial da TLA com o trabalho de Anna de Fina (Georgetown University), “Virtual friendship and everyday resistance in the digital sphere”. Enriquecendo a discussão sobre o tópico focalizado no artigo da pesquisadora, apresentamos, ainda, uma entrevista com De Fina realizada por Bruna Elisa Frazatto e Tatiana Martins Gabas.
Reforçando nosso convite à (re)afirmação e (re)edição de resistências, desejamos que o(a)s leitore(a)s possam acompanhar as publicações ao longo de toda a semana.
Links externos
Trabalhos em Linguística Aplicada – TLA: www.scielo.br/tla
Sobre os autores
Viviane Veras
Graduada em Letras Português-Inglês pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, mestre e doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas. É docente do Departamento de Linguística Aplicada-IEL, Unicamp, na linha Linguagem, Transculturalidade e Tradução, desenvolvendo pesquisa em teorias e técnicas de tradução e interpretação, linguagem e psicanálise.
Ana Cecília Cossi Bizon
Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas. É docente no Departamento de Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem-IEL, Unicamp. Líder do grupo de pesquisa IndisciPLAr – Português como Língua Adicional em uma perspectiva indisciplinar (Unicamp/CNPq), desenvolve pesquisa etnográfica envolvendo multilinguismo, (i)mobilidades, espaços de (não) pertencimento e direitos humanos, especialmente em contexto de políticas para o Português como Língua Adicional.
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