Alessandra Del Ré, Professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, campus Araraquara, SP, Brasil.
Anne Salazar Orvig, Professora na Université Sorbonne Nouvelle, Paris, França.
A tarefa de organizar um número especial para uma revista ou para uma série de livros é sempre bastante desafiadora se considerarmos as múltiplas funções a serem desempenhadas pelo responsável por um trabalho dessa natureza, entre elas: propor uma temática que demonstre relevância, reunindo docentes-pesquisadores que possam contribuir com as discussões que se espera; ser o mediador entre o autor e o corpo editorial da revista ou do livro, lidar com prazos, com imprevistos etc. Em se tratando de uma revista já consolidada e reconhecida pelos pares, como é o caso da Bakhtiniana, e de um trabalho que envolve o gerenciamento de autores e organizadores de diferentes culturas, diferentes práticas – situação vivida por nós para o vol. 16, no. 1 (2021) –, é necessário que haja bastante jogo de cintura por parte dos envolvidos durante todo o processo.
Nesse caso, o diálogo entre as partes é fundamental para que os percalços e mal-entendidos não se sobreponham ao objetivo final de uma publicação dessa natureza. Foram muitas conversas, muitas ponderações, por email e por telefone, ao longo de cerca de dois anos. O primeiro ano foi dedicado basicamente aos esclarecimentos de todo o funcionamento do processo, porque, ao contrário dos volumes especiais ou temáticos, os números regulares de revistas indexadas pelo SciELO têm outro encaminhamento. Por exemplo, eles não recebem títulos, embora possam reunir especialistas em um determinado tema, como foi o nosso sobre Aquisição da Linguagem.
Além disso, embora os autores possam ser, em princípio, convidados, eles devem submeter seus trabalhos pelo próprio sistema da revista, o que implica poderem ser aceitos ou recusados. Uma vez submetidos, nós, organizadores, sugerimos um parecerista para cada um dos artigos e a revista se responsabiliza pelos demais pareceres. Se aprovados, os autores são comunicados e precisam providenciar a versão em inglês dos artigos. No caso do número em questão, como se tratava de autores franceses, alguns optaram por escrever diretamente em inglês e, nesse caso, os textos necessitaram de um trabalho de tradução para o português; no caso dos autores que escreveram apenas em francês, o texto precisou ganhar mais duas versões: inglês e português.
Figura 1. Alessandra Del Ré, da UNESP-FCLAr e Anne Salazar Orvig, da Université Sorbonne Nouvelle.
Todo esse material foi traduzido por profissionais competentes e experientes na área, o que exigiu que nós, que estávamos à frente dessa tarefa, mobilizássemos recursos financeiros em nossas instituições de origem – mas nem por isso ele deixou de ser totalmente visto e revisto muitas vezes por nós, organizadoras. Todos os termos e expressões foram cuidadosamente examinados. Um trabalho hercúleo. Assim, desde a submissão até a versão final de todos os artigos, nas diferentes línguas, foi necessário mais um ano de trabalho.
Durante esse percurso, certos percalços de ordem pessoal e acadêmica tiveram de ser gerenciados – afinal, em dois anos muitas coisas acontecem! Alguns foram especialmente delicados, como no caso de artigos recusados; ou complicados, por exemplo, quando envolveram as diferentes políticas dos comitês de ética no Brasil e na França. Na primeira situação, embora os autores tivessem sido advertidos desde o início do processo sobre essa possibilidade, é sempre uma situação bastante desconfortável para os organizadores. Na segunda, que envolveu o uso de dados de (fala) de seres humanos, as leis brasileiras deveriam prevalecer, já que se tratava de uma publicação do Brasil, e isso foi bastante complicado de ser compreendido por alguns autores estrangeiros.
A publicação desse número era uma demanda da área de Aquisição da Linguagem, pois nenhuma outra obra tinha conseguido reunir trabalhos e textos que mostravam a consolidação de uma nova perspectiva teórica para o campo, no caso, a dialógico-discursiva, em uma vertente bakhtiniana, e, ao mesmo tempo, revelava uma outra possibilidade para os estudos na área do discurso, de diferentes campos de pesquisa que podiam se beneficiar desse olhar. Assim, o objetivo principal dessa publicação era trazer a público reflexões que vinham sendo desenvolvidas há pelo menos duas décadas e com resultados muito interessantes.
Diante disso, todo o restante pareceu menos importante e o que nos aguardava ao término do processo nos impulsionou a prosseguir. Foi um trabalho árduo, exaustivo, sem dúvida, mas de muito aprendizado e, por fim, bastante recompensador. O resultado final virou a grande referência no Brasil, mas também no exterior, sobre essa “nova” perspectiva para a área de Aquisição. Mereceu um brinde com uma taça de champanhe.
Próximos números com editoria ad hoc:
- Presença da cosmovisão religiosa na construção discursiva de mundo: prazo para submissão 30 de agosto de 2023.
- A literatura contemporânea para crianças e jovens: espaço(s) plural(is): prazo para submissão 30 de outubro de 2023.
Links externos
Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso – BAK: https://www.scielo.br/j/bak/
Mais informações sobre a Bakhtiniana em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/announcement
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários