Russel Teresinha Dutra da Rosa, Docente, Programa de Pós-Graduação em Educação e do Departamento de Ensino e Currículo, Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.
Célia Elizabete Caregnato, Docente, Programa de Pós-Graduação em Educação e do Departamento de Ensino e Currículo, Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.
O artigo Trajetórias de estudantes em uma universidade pública: entre trajetos-projetos familiares, pertencimento e individuação, publicado no periódico Educação em Revista (2025, vol. 41), discute experiências conflituosas e estratégias de estudantes universitários diante de limites estruturais e conjunturais. Os achados mostram que estes estudantes têm entendimento do próprio privilégio, valorizando a diversidade sociocultural da instituição e, ao percorrer trajetórias de estudos superiores naturalizadas, buscam se diferenciar em suas escolhas em relação à família.
O grupo participante da pesquisa é constituído por filhos de um segmento social bem-posicionado pela escolarização e renda de mães e pais. Os estudantes percebem-se pertencentes à universidade pública com tempo disponível para fruição da convivência em uma instituição formada por um público com origens sociais, culturais e geográficas diversas. Conquanto sejam herdeiros, expressam preocupação com a segurança profissional futura, trabalhando para se afirmar no espaço no qual se inserem e para manter ou aprimorar a sua posição social.
A comunicação apresenta resultados do projeto de pesquisa “Socialização Acadêmica em Trajetórias Estudantis: Disposições, reflexividade e reconhecimento na Educação Superior”, coordenado pela professora Dra. Célia Elizabete Caregnato, com a participação dos pesquisadores, professora Dra. Russel Teresinha Dutra da Rosa, bolsista de iniciação científica Renato Shimedzu Terra e doutorando Murilo Marreco Pedroso do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Discutimos especificamente as respostas a um questionário, obtidas em 2021, de um grupo de 202 estudantes universitários de uma universidade pública de capital de estado da região sul do Brasil, mantidos financeiramente por famílias com renda superior a 10 salários-mínimos, sendo que a maioria das mães e pais atuam como profissionais liberais, empresários e servidores públicos com formação superior. Os participantes da pesquisa são majoritariamente pessoas brancas (90%) entre 23 e 24 anos que ingressaram na Universidade por vagas destinadas à ampla concorrência no vestibular.
Imagem: Rochele Zandavalli – UFRGS
Também foram realizadas entrevistas em profundidade com 10 estudantes desse grupo, entre outubro de 2022 e fevereiro de 2023. Eles foram questionados sobre os apoios e incentivos familiares aos estudos; escolas em que realizaram o ensino médio; acesso a bens culturais; experiência na universidade e andamento do curso de graduação, desafios, estratégias e adaptações; participação em atividades de iniciação científica; de trabalho e manutenção financeira e perspectivas de futuro profissional.
Buscamos perceber pontos de vista e sentimentos, mas também condicionamentos sociais incorporados subjetivamente. Os resultados são discutimos a partir das noções de herança e apropriação de capital cultural (Bourdieu, 2014; Singly, 2009; Nogueira; Nogueira, 2015; Setton; Neves, 2022) bem como de processos de individuação que ocorrem pela participação em redes de sociabilidade e cooperação (Colombo; Rebughini; Domaneschi, 2022; Horner, 2022; Haltia; Isopahkala-Bouret; Mutanen, 2023).
A análise mostrou variações nas formas de mobilização familiar e individual em processos de transmissão e de apropriação da herança cultural e de afirmação de autonomia. Observamos que esses estudantes universitários, egressos em sua maioria de escolas privadas, com alto desempenho em exames de ingresso na Educação Superior, encaram os estudos prolongados em uma instituição pública de prestígio como um projeto familiar naturalizado e valorizado. Buscam agir com vistas à obtenção de formação e experiências internacionalizadas, pela aprendizagem de outros idiomas e realização de viagens e intercâmbios.
Também aproveitam a experiência universitária anterior de genitores e de irmãos e buscam atividades extracurriculares. Embora haja variações individuais e manifestem dilemas, inclinações contrariadas por projetos familiares, além de desafios para o êxito nos estudos, observamos, em suas trajetórias, possibilidades de escolhas estratégicas de cursos, estágios e empregos.
O grupo de pesquisa vem analisando trajetórias do público diversificado de uma instituição pública de Educação Superior, com publicações já realizadas, e os projetos em andamento buscam analisar as transições entre níveis e etapas de escolarização bem como os destinos profissionais dos egressos da graduação.
No vídeo a seguir, Russel Dutra da Rosa apresenta os principais pontos da pesquisa:
ROSA, R.T.D. and CARENGNATO, C.E. Trajetórias de estudantes universitários herdeiros entre o projeto familiar e a diferenciação [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/03/25/trajetorias-de-estudantes-universitarios-herdeiros-entre-o-projeto-familiar-e-a-diferenciacao/
O artigo Trajetórias de estudantes em uma universidade pública: entre trajetos-projetos familiares, pertencimento e individuação, publicado no periódico Educação em Revista (2025, vol. 41), discute experiências conflituosas e estratégias de estudantes universitários diante de limites estruturais e conjunturais. Os achados mostram que estes estudantes têm entendimento do próprio privilégio, valorizando a diversidade sociocultural da instituição e, ao percorrer trajetórias de estudos superiores naturalizadas, buscam se diferenciar em suas escolhas em relação à família.
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