Roberlayne de Oliveira Borges Roballo, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
No artigo A longa, concreta e imaginária presença dos manuais de história da educação estrangeiros no Brasil (1930-1980), publicado na Revista Brasileira de História da Educação, vol. 23 (2023), a autora Roberlayne Roballo analisa como dois manuais estrangeiros de História da Educação.
As obras “História da Educação” de Paul Monroe e “História da Educação e da Pedagogia” de Lorenzo Luzuriaga tiveram uma presença longeva nos cursos de formação de professores brasileiros por meio das suas sucessivas reimpressões. Tal fato nos dá indícios da expressiva circulação e importância desses impressos na produção de sentidos e de representações sobre o passado educativo.
O estudo buscou compreender os dois manuais em questão a partir da dimensão de um inventário, abordando-os em sua materialidade, por meio de duas frentes de análise que levam em consideração a ideia de “objeto concreto” e “lugar imaginário”.
O “concreto” dos manuais de História da Educação se encontra nas reflexões sobre os elementos que organizaram a sua distribuição para os cursos de formação de professores. A editora e os seus editores, a coleção, os autores, os elementos que visualmente apresentam a importância desses materiais (como as capas, folhas de rosto, orelhas), inspiram o seu uso e orientam a atividade educativa de professores e alunos.
O “imaginário” levou aos possíveis sentidos atribuídos à História da Educação, tanto com relação à leitura e interpretação dos conteúdos sobre a educação e sua história, como dos sentidos expressos à profissionalização docente ou ao exercício de ensinar.
Em se tratando dos manuais de História da Educação, tanto as produções de títulos novos quanto de reimpressões estavam ligadas às reformas curriculares para a formação de professores em curso, entre os anos de 1920 e 1930, no Brasil. Foi muito significativa a organização de uma vasta literatura pedagógica para ocupar os espaços de formação do professorado, sendo inúmeros os manuais publicados para subsidiar os cursos nos níveis secundário e superior.
Nesse cenário, a Companhia Editora Nacional foi uma das maiores (se não a maior) editora a publicar manuais de História da Educação, dando a ler publicações brasileiras e estrangeiras, novas e reedições. Os manuais privilegiados nessa pesquisa tiveram o maior número de exemplares impressos pela coleção Atualidades Pedagógicas.
Figura 1. Capa do manual “História da Educação” de Paul Monroe. Fonte: MONROE, Paul. História da Educação. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1. ed., 1939.
Figura 2. Capa do manual “História da Educação e Pedagogia” de Lorenzo Luzuriaga. Fonte: LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 4. ed., 1969.
Fica claro que os manuais estrangeiros do estadunidense Monroe e do espanhol Luzuriaga conquistaram um importante espaço como subsídio para a disciplina de História da Educação no Brasil, legitimando modelos exemplares de escrita disciplinar, e significando também a inter-relação entre diferentes culturas e a divulgação de célebres professores. Além disso, os manuais são construções particulares da realidade. São materiais didáticos que selecionam e organizam de modo peculiar um vasto universo de conhecimentos. Por isso, possuem marcas que orientam a leitura e tencionam o ato de ler.
Por atravessarem as fronteiras dos seus países de origem e a linha do tempo, os livros de Monroe e Luzuriaga preservam em sua estrutura a fundamentação histórico-universal e a função prática e utilitária. Fundamentados numa concepção histórico-universal, os seus conteúdos se pautavam em breves estudos dos períodos históricos, relacionando-os a um passado educativo. Em uma função prática e utilitarista, ensinavam às futuras professoras e professores saberes sobre a história da escola, das doutrinas pedagógicas e do ensino, considerados conteúdos importantes para a formação e atuação profissional.
Nesses manuais, a História da Educação se configura como um saber a ser ensinado, saber ensinado e saber aprendido, dispondo dos conceitos propostos por Bittencourt (2008). Um saber que privilegia a educação e a sua história que está aliado ao desenvolvimento da vida humana, principalmente por meio da educação escolar. Das ideias mais defendidas se sobressai a que se refere à História da Educação como o estudo do passado e meio para explicar o presente e projetar o futuro.
O passado é uma grande lição nesses manuais!
Referências
BITTENCOURT, C.M.F. Livro didático e saber escolar (1810-1910). Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
CHARTIER, R. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII (Mary del Priori, trad., 2ª ed.). Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.
Para ler o artigo, acesse
ROBALLO, R.O.B. A longa, concreta e imaginária presença dos manuais de história da educação estrangeiros no Brasil (1930-1980. Rev Bras Hist Educ [online]. 2023, vol. 23, e273 [viewed 25 October 2023]. https://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e273. Available from: https://www.scielo.br/j/rbhe/a/fnjFzSt6gBVKk4SXst3xsZS/
Links externos
Revista Brasileira de História da Educação – RBHE: https://www.scielo.br/j/rbhe/
Revista Brasileira de História da Educação – Site: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rbhe/index
Revista Brasileira de História da Educação – Facebook: https://www.facebook.com/revistarbhe/
Sobre a autora – Roberlayne de Oliveira Borges Roballo
Roberlayne de Oliveira Borges Roballo é professora do Departamento de Planejamento e Administração Escolar, Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PRPPG/UFPR) – Linha de Pesquisa História e Historiografia da Educação. Doutora e Mestre em Educação pelo PRPPG/UFPR. Integrante do Grupo de Pesquisa História Intelectual e Educação e do Observatório de Culturas e Processos Político-Pedagógicos. Secretária de Educação do Município de Curitiba (Gestão 2013-2016) e Coordenadora do Fórum Municipal de Educação (gestão 2013-2016). | Lattes.
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários