Consequências do absenteísmo docente para o trabalho escolar

Fabiana Silva Fernandes, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, São Paulo (SP), Brasil.

Cláudia Davis, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, São Paulo (SP), Brasil.

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O artigo Absenteísmo docente: desafios para as políticas públicas educacionais trata do fenômeno do absenteísmo entre os servidores municipais da Secretaria de Educação de São Paulo e busca compreender como profissionais da educação (gestores, coordenadores pedagógicos e professores) entendem a falta docente e se organizam para enfrentar esse problema. 

Desenvolvida ao longo de 2019 e 2020, a investigação foi conduzida por pesquisadores da Fundação Carlos Chagas, com o apoio da Unesco e da Prefeitura Municipal de São Paulo, para buscar explicações para a ausência dos servidores alocados nas escolas públicas municipais, em seus postos de trabalho, uma vez que tais aspectos representam um desafio para a gestão escolar e para o trabalho pedagógico.

A realização do estudo foi viabilizada por meio do acesso à base de dados dos servidores públicos da Secretaria Municipal de Educação. Os dados permitiram a elaboração de uma análise estatística descritiva dos tipos de ausência, por categoria profissional existente no setor, e do perfil dos professores (formação, idade, jornada de trabalho, entre outros) em comparação com as ausências. O aprofundamento da análise estatística foi efetuado mediante a realização de entrevistas com coordenadores pedagógicos, gestores e professores de 20 unidades educacionais.

O absenteísmo refere-se à ausência do trabalhador em seu posto de trabalho e foi tratado, na pesquisa, como o conjunto de faltas, licenças e afastamentos dos profissionais da educação. São poucos os estudos da área da educação que tratam desse fenômeno e, portanto, várias hipóteses puderam ser testadas, incluindo a distância entre a residência do servidor e a escola, sua idade, jornada de trabalho e forma de contratação. No artigo, a hipótese de pesquisa explorada foi a seguinte: professores com maior carga horária de trabalho ou que apresentam mais de um vínculo profissional faltam mais do que os demais? 

Antecipando alguns resultados, verifica-se, na Figura 1, que os profissionais que se ausentam mais realizam uma jornada de trabalho maior, por ocupar dois ou mais cargos na Secretaria Municipal de Educação. 

Figura 1. Proporção de número de ausências do servidor do quadro MAG por quantidade de cargo-base, em 2018.

As entrevistas evidenciaram alguns efeitos das faltas na gestão e no cotidiano escolar, os quais são agravados quando o servidor se ausenta inesperadamente ou quando a escola não dispõe de meios para os substituir. O interessante foi observar que os profissionais apontaram problemas relacionados à organização do trabalho escolar, mas pouco destaque foi dado aos efeitos das faltas no desenvolvimento do trabalho pedagógico e no processo de ensino e de aprendizagem. Quando foram mencionados os alunos, discorria-se sobre a indisciplina e a desorganização das turmas, ou seja, problemas mais imediatos para serem resolvidos na rotina das escolas.

Ainda que as opiniões dos sujeitos não reflitam o conjunto das unidades escolares do município de São Paulo, as manifestações coincidentes apontam dificuldades que gestores e professores enfrentam em suas rotinas de trabalho e algumas concepções sobre compromisso profissional e organização escolar, que podem trazer contribuições para se pensar o absenteísmo na rede de ensino como um todo, e levantar possíveis estratégias para atenuar o problema. 

Nesse sentido, foram apontadas pelos profissionais da educação a necessidade de melhoria nas condições de trabalho, principalmente no que se refere à diminuição de alunos por turma e a contratação de mais docentes; de valorizar os professores, por meio da elaboração de planos de carreira mais atrativos, com salários melhores, com investimento em formação continuada e em gratificações por assiduidade; de rever a legislação referente a faltas e licenças e o estreitamento de relações entre Secretaria da Educação e Saúde, para fiscalizar as licenças médicas com mais rigor e oferecer um atendimento ágil para o servidor público.

Referências

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Para ler o artigo, acesse

FERNANDES, F.S., et al. Absenteísmo docente: Desafios para as políticas públicas educacionais. Cadernos de Pesquisa [online]. 2023, vol. 53, e09880 [viewed 19 December 2023]. https://doi.org/10.1590/198053149880. Available from: https://www.scielo.br/j/cp/a/VLhpgL8L67g834LnkvfB4vp/ 

Links externos

Cadernos de Pesquisa: http://www.scielo.br/cp/

Cadernos de Pesquisa – Página Institucional: https://publicacoes.fcc.org.br/cp/index

Cadernos de Pesquisa – Sobre o Periódico: https://publicacoes.fcc.org.br/cp/about

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

Fernandes, F.S. and DAVIS, C. Consequências do absenteísmo docente para o trabalho escolar [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/12/19/consequencias-do-absenteismo-docente-para-o-trabalho-escolar/

 

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