Jozélio Agostinho Lopes, doutorando em Ensino das Ciências, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife, Pernambuco, Brasil.
Bruno Silva Leite, professor de Química e de Tecnologias no Ensino de Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife, Pernambuco, Brasil.
Os memes são frutos da evolução tecnológica e têm ressignificado o modo como as pessoas se comunicam. O gênero em questão carrega elementos importantes que acabam instigando os seus consumidores, devido à informação que objetiva transmitir e os demais aspectos que a estruturam, tais como o humor, as imagens, os textos e os gifs que são propagados na internet. É uma forma humorada e inovadora de apresentar o conteúdo e de conectar os vestibulandos à realidade; além de ser rico em significado, o meme pode dialogar com diferentes temas e textos, possibilitando, assim, a realização de uma avaliação crítica e objetiva.
Escrito pelos pesquisadores Jozélio Agostinho Lopes e Bruno Silva Leite, doutorando e professor, respectivamente, do Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), na linha de pesquisa Tecnologias no Ensino de Ciências e da Matemática, o artigo A presença de memes em provas de Ciências da Natureza aborda o uso de memes em exames de acesso ao Ensino Superior, de modo a perceber que estes são capazes de mobilizar e explorar, durante a resolução das questões, a multilinguagem, o multiletramento, a construção de sentidos, bem como habilidades cognitivas e afetivas.
A pesquisa foi desenvolvida a partir do levantamento e análise das provas de Ciências da Natureza do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), disponíveis na base de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), como também a partir das provas dos vestibulares tradicionais e seriados das instituições públicas (federais e estaduais) que mantiveram seus sistemas próprios de avaliação.
Para isso, foi realizado um recorte temporal considerando o período de vinte anos de aplicação (de 2001 a 2021). Trata-se de um estudo de abordagem quanti-qualitativa, do tipo documental, no qual os dados foram submetidos à análise de conteúdo. Em síntese, a investigação contou com dois momentos principais, sendo o primeiro reservado à identificação e levantamento dos memes nas páginas das instituições públicas. O segundo momento consistiu na análise e discussão dos artefatos supracitados, fazendo uso dos dados qualitativos e quantitativos, cuja organização das informações se deu por meio de quadros e tabelas.
Entre os principais resultados, foram identificados cinco memes a partir da análise realizada nos cadernos de provas dos vestibulares de 40 instituições de ensino superior. O ENEM, por sua vez, não apresentou, no intervalo considerado, nenhum meme em suas questões de Ciências da Natureza. Com a pesquisa, verificou-se a presença das duas primeiras dimensões da Taxonomia de Bloom Revisada, conhecimento efetivo/factual e conhecimento conceitual, na qual os candidatos precisavam fazer uso destas dimensões para responder às questões propostas nas provas.
Os memes evidenciados na investigação exigiram, por meio de questões objetivas e discursivas, a presença dos três primeiros níveis dos processos cognitivos da Taxonomia de Bloom Revisada, sendo eles o lembrar, representando o mais simples dos níveis e o mais recorrente; o entender; e, por último, o aplicar. Isso significa que os vestibulandos trabalharam com o reconhecimento, a reprodução e a memorização de informações (nível 1); com a conexão entre conhecimentos novos e os já adquiridos (nível 2); e, ainda, com a execução de procedimentos em situações específicas, sendo elas novas ou não (nível 3) (Costa; Martins, 2017).
O cenário investigado aponta para uma utilização, ainda que tímida, dos memes em provas de repercussão nacional, quando se consideram os vestibulares seriados e tradicionais; mas, quando se observam as provas do ENEM, nota-se que esse gênero multimodal, diferente de outros (tirinhas, charge, cartum, propaganda e a HQ), não tem aparecido, o que revela uma necessidade emergente de incorporação dos memes nesses exames. É preciso, portanto, considerar as potencialidades que permeiam esse gênero humorístico, uma vez que são ricos em significados, lançam mão da linguagem verbal e não verbal para a abordagem de diferentes temas do cenário atual e colaboram com a divulgação científica de uma forma nova e atraente.
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Para ler o artigo, acesse
LOPES, J.A. and LEITE, B.S. A presença de memes em provas de ciências da natureza. Educ rev [online]. 2024, vol. 40, e44444 [viewed 20 March 2024]. https://doi.org/10.1590/0102-469844444. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/CXmbdzwdQrWGcxG4R7HG6Fp/
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