Margarida Cássia Campos, Professora do Departamento de Geografia da UEL. Londrina, PR, Brasil.
Lindberg Nascimento Júnior, Professor do Departamento de Geografia da UFSC, Florianópolis. SC. Brasil.
O estudo BNCC de Geografia do Ensino Fundamental e as contradições para uma educação decolonial e antirracista, publicado na Educação em Revista (vol. 40, 2024), parte do princípio de que as políticas e os sistemas educacionais devem ser continuamente analisados e interpretados criticamente, incluindo a avaliação dos espaços de formação e seus impactos no cotidiano escolar para promover efetivas transformações sociais.
No contexto brasileiro, é crucial considerar que o legado colonial e escravocrata representa um dos principais desafios para alcançar essa transformação, e almejar um projeto de estado justo e democrático. Portanto, a questão central de nossa pesquisa é determinar que medida a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) contribui para esse processo, especialmente, se ela é capaz de auxiliar na superação das implicações da colonialidade e do racismo.
Para nós, professores e geógrafos negros e brasileiros, é fundamental colocar essas questões como elemento central do debate sobre a BNCC, pois estamos preocupados com a formação inicial de professores, e precisamos destacar que as principais fragilidades do documento limitam significativamente as expectativas do processo educativo e do trabalho docente transformador. Tornar essas contradições conhecidas deve ajudar tanto os colegas em início de carreira quanto os mais experientes.
Por isso, selecionamos os descritores de competência apresentados nos documentos e destacamos aspectos históricos da construção da política educacional, que se mostraram inconsistentes em grande parte.
Em nossa análise, a BNCC contribui mais para a manutenção das injustiças raciais e de classe no ensino de Geografia do que para a sua transformação. Assim, é imperativo que reconheçamos a urgência de uma educação que não apenas reflita a diversidade e as injustiças históricas do nosso país, mas que também atue proativamente na desconstrução dessas implicações.
A BNCC, ao não abordar de forma eficaz as questões fundamentais da colonialidade e do racismo, perde a oportunidade de ser um instrumento poderoso de transformação social e antirracista. É fundamental que, como sociedade, exijamos e lutemos por uma educação que promova a igualdade, a justiça e a verdadeira inclusão, reconhecendo e valorizando a pluralidade de saberes e experiências que compõem o nosso país.
Referências
FANON, F. Os condenados da Terra. Juiz de Fora-MG: Editora UFJF, 2005
MBEMBE, A. Crítica da razão negra. São Paulo: N-1, 2018.
QUIJANO, A. Colonialidade do Poder e Classificação Social. In: SANTOS, B.S. and MENESES, M.P. (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina, 2009, p. 73-117.
Links externos
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