Mauricio Ernica, Professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil.
As metrópoles brasileiras são marcadas por desigualdades agudas e por resultados educacionais mais baixos do que as cidades médias de seus estados. As pesquisas que têm estudado essa realidade, dedicadas sobretudo aos casos do Rio de Janeiro e de São Paulo, identificaram padrões assumidos por essas desigualdades educacionais e explicações para elas. Dedicado também ao caso paulistano, o artigo “Desigualdades educacionais em metrópoles: território, nível socioeconômico, raça e gênero”, de Mauricio Ernica, da Faculdade de Educação da Unicamp, e Erica Castilho Rodrigues, da Universidade Federal de Ouro Preto, publicado no periódico Educação & Sociedade (vol. 41), dá continuidade a esses trabalhos e desenvolve dois aspectos pouco abordados na literatura da área: 1) descreve os padrões assumidos pelas desigualdades de aprendizagem entre grupos sociais definidos pela intersecção de nível socioeconômico, raça e gênero e, 2) descreve a variação desse padrão entre regiões da cidade e no interior delas.
Ernica e Rodrigues analisaram os dados da Prova Brasil de 2007 a 2015, concentrando-se nos resultados em Língua Portuguesa no 5.o ano. Para abordar as desigualdades de aprendizagem, utilizaram uma medida estatística que permite a comparação de distribuições de proficiências de grupos de estudantes. Inicialmente, definiram o padrão das desigualdades para toda a cidade. Em seguida, agruparam os distritos da cidade em quatro conjuntos, definidos segundo o seu nível de aprendizagem e o seu padrão de desigualdades. Esses quatro agrupamentos de distritos foram descritos por suas características socioeconômicas e territoriais. Por fim, os autores puderam descrever os padrões que as desigualdades de aprendizagem assumem em cada agrupamento, analisando suas semelhanças e diferenças.
Os resultados do trabalho confirmam parcialmente as conclusões de outros trabalhos. Em primeiro lugar, reafirmam que as aprendizagens mais altas, para todos os grupos sociais, se dão nos distritos mais ricos e mais centrais e que, inversamente, as aprendizagens mais baixas, para todos os grupos, se dão nos distritos mais pobres e mais periféricos. Entretanto, o trabalho desenvolve esse retrato conhecido. Ao analisar as desigualdades no interior dos distritos, observa-se que os distritos com maiores aprendizagens são, também, os mais desiguais e, inversamente, os distritos com menor aprendizagem são os mais equitativos. Os poucos distritos com nível de aprendizagem mais alto e menores desigualdades situam-se em regiões intermediárias entre o centro e os extremos periféricos, habitadas predominantemente por famílias de classe média.
A pesquisa tem dois achados principais. O primeiro deles é o padrão geral de desigualdades de aprendizagem na cidade entre grupos sociais estudados, segundo o qual, pela ordem, têm maior aprendizagem: as meninas brancas, as meninas pardas, os meninos brancos, os meninos pardos, as meninas pretas e os meninos pretos. O segundo deles é o padrão dessas desigualdades ao longo dos agrupamentos de distritos. Esse ordenamento encontrado na cidade também foi verificado no interior dos agrupamentos de distritos estudados, embora haja variações no nível de aprendizagem e nas desigualdades. Entretanto, a principal variação encontrada ao longo da cidade foi que, nos distritos mais desiguais, as desvantagens raciais são fortes, afetando sobretudo meninas e meninos pretos sendo que, por sua vez, nos distritos mais equitativos, enquanto as desvantagens dos meninos pretos persistem, as meninas pretas têm maior desempenho, aproximando-se dos meninos pardos e brancos.
O artigo de Ernica e Rodrigues, assim como os outros trabalhos com os quais dialoga, podem ser lidos como um alerta importante para formuladores de políticas públicas educacionais. Há estruturas persistentes que produzem desigualdades educacionais ao longo do território das metrópoles e também no interior desses territórios. Para que seus efeitos sejam mitigados, assegurando que todos os grupos sociais possam ter acesso equitativo a altos níveis de aprendizagem, é imprescindível que sejam implementadas políticas específicas, atentas tanto à distribuição equitativa dos recursos das políticas públicas quanto aos processos intraescolares que favorecem alguns grupos em detrimento de outros.
No vídeo a seguir, Mauricio Ernica discute os padrões de desigualdades de aprendizagem encontrados na cidade de São Paulo.
Para ler o artigo, acesse
ERNICA, M. and RODRIGUES, E. C. Desigualdades educacionais em metrópoles: território, nível socioeconômico, raça e gênero. Educ. Soc. [online]. 2020, vol. 41, e228514, ISSN: 1678-4626 [viewed 17 August 2020]. DOI: 10.1590/es.228514. Available from: http://ref.scielo.org/85y4xw
Links externos
Educação & Sociedade – ES: www.scielo.br/es
Facebook: https://www.facebook.com/ES.cedes/
Twitter: https://twitter.com/ES_cedes
LinkedIn: www.linkedin.com/in/educação-e-sociedade
Academia.edu: https://unicamp.academia.edu/EducaçãoeSociedade
Mendeley: https://www.mendeley.com/profiles/educao-e-sociedade/
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários