Cenas da pandemia. O que podemos pensar sobre educação?

Bianca Salazar Guizzo, Docente da Universidade Luterana do Brasil, Campus Canoas, RS, Brasil.

Fabiana de Amorim Marcello, Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

Fernanda Müller, Docente da Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.

Em 2020, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 30 anos – e, com ele, faz-se evidente a persistência, em sua forma legal, de definições que localizam crianças e adolescentes como sujeitos de direitos. Como marco histórico, a então nova legislação veio no rastro da Constituição cidadã recém promulgada (BRASIL, 1988), na nada tênue divisa entre o ímpeto da abertura democrática e os anseios de conquistas de direitos sociais. No entanto, no atual contexto, importa menos comemorar de forma celebratória o aniversário do ECA e sim, colocar em perspectiva os avanços até então por ele prometidos – seja por meio da avaliação dos tensionamentos e obstáculos em direção à garantia de uma série de direitos da criança e do adolescente, seja pela consideração do desafio inescapável que hoje, maio de 2020, enfrentamos: uma nova pandemia causada por um vírus pouco conhecido, agressivo e que coloca em risco a vida de milhares de pessoas (GUIZZO; MARCELLO; MÜLLER, 2020).

Em razão desta pandemia instituições educacionais suspenderam atividades presenciais; parte da indústria e do comércio, de restaurantes e de serviços em geral foi igualmente fechada. Agora, a pergunta a que se tenta responder todos os dias, nos mais variados lares brasileiros é: O que fazer com as crianças? O argumento que se busca defender é o de que a quarentena dá origem a um deslocamento, e essa discussão encontra-se no artigo “A reinvenção do cotidiano em tempos de pandemia”, publicado no periódico Educação e Pesquisa (vol. 46).

Partindo da noção de que houve uma urgente reorganização do espaço e do tempo cotidianos (gerando o deslocamento mencionado), são discutidas três dimensões que precisaram ser reinventadas com a pandemia e com o isolamento social que ela exige. Concentrando-se, pois, nas práticas cotidianas, nas ações e atividades ordinárias por meio das quais as balizas de nossas ações são não apenas reproduzidas, mas também, criativamente inventadas (CERTEAU, 1998). Com isso, o objetivo deste texto é tomar a pandemia (em seu caráter de ineditismo) como elemento central para discutir as formas pelas quais “artes criativas do fazer cotidiano” (MENDONÇA, 2012, p. 345) se efetivam no limite entre a conformação e a suspensão em direção a novas formas de existir.

A primeira dimensão discutida refere-se às alterações impostas sobre a relação das famílias com as tecnologias (apontando para as adaptações que os processos de ensinar e de aprender vêm sofrendo). A segunda dimensão vincula-se à relação das famílias com a escola (e aqui buscando pensar a sustentação da máxima de que “a educação não pode parar”, que parece ganhar lugar privilegiado mediante as alterações das formas de a escola fazer-se presente nos espaços privados do lar). Em conjunto, essas duas dimensões indicam, direta ou indiretamente, modos pelos quais parece persistir um modelo de normalidade em meio a um contexto de excepcionalidade; garantias de regularidade nos marcos de uma singularidade sem precedentes. A terceira seção problematiza a relação das famílias com suas crianças, porém, agora no que tange ao modo como o deslocamento de que falamos vem acompanhado de uma necessidade de redefinição daquilo que parece não encontrar nem na casa, nem na escola, orientações seguras e previamente determinadas. Mais precisamente, trata-se de uma terceira dimensão implicada com a reinvenção de novas práticas do espaço, na qualidade de “maneiras de frequentar um [ou dois] lugar [lugares]” (CERTEAU, 1998, p. 58).

Referências

BARBOSA, L. M. R. and OLIVEIRA, R. L. P. de. Apresentação do dossiê: Homeschooling e o Direito à Educação. Pro-Posições [online]. 2017, vol. 28, no. 2, pp. 15-20, ISSN: 1980-6248 [viewed 17 August 2020].  DOI: 10.1590/1980-6248-2017-0121. Available from: http://ref.scielo.org/5rkxdd

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

CURY, C. R. J. Homeschooling ou educação no lar. Educ. rev. [online]. 2019, vol. 35, e219798, ISSN: 1982-6621 [viewed 17 August 2020].  DOI: 10.1590/0102-4698219798. Available from: http://ref.scielo.org/hywkgp

CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano: artes do fazer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

MENDONCA, R. F. Táticas cotidianas e ação coletiva: a resistência das pessoas atingidas pela hanseníase. Varia hist. [online]. 2012, vol. 28, no. 47, pp. 341-360, ISSN: 0104-8775 [viewed 17 August 2020]. DOI: 10.1590/S0104-87752012000100016. Available from: http://ref.scielo.org/tgsrch

Para ler o artigo, acesse

GUIZZO, B. S.; MARCELLO, F. de A. and MULLER, F. A reinvenção do cotidiano em tempos de pandemia. Educ. Pesqui. [online]. 2020, vol. 46, e238077. ISSN: 1678-4634 [viewed 17 August 2020].  DOI: 10.1590/s1678-4634202046238077. Available from: http://ref.scielo.org/d45h4c

Link externo

Educação e Pesquisa – EP: www.scielo.br/ep

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

GUIZZO, B. S.; MARCELLO, F. de A. and MULLER, F. Cenas da pandemia. O que podemos pensar sobre educação? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/09/17/cenas-da-pandemia-o-que-podemos-pensar-sobre-educacao/

 

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