Ana Angelita Costa Neves da Rocha, Docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Ricardo Scofano Medeiros, Doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Por quais motivos deve-se considerar o espaço enquanto categoria importante para interpretação e experimentação do pensamento curricular? Recorrendo brevemente à literatura do campo, sem qualquer pretensão de ser ou soar exaustivo, assiste-se a uma certa mobilização que aciona o termo espaço para significar e pensar o currículo. O postulado, pode facilmente identificar, que o currículo é ou funciona como um espaço: espaço de produção de identidades, espaço disciplinar, espaço-tempo de fronteira cultural, espaço autobiográfico, etc. Suspeita-se, talvez, é de que acionamento espacial por parte da teoria curricular não acontece à toa, e o motivo disso, pode entrever, justamente por nossas vidas acontecerem espacialmente.
Como os autores passaram pelos bancos da faculdade de Geografia, buscam visibilizar no artigo “Currículo e espaço – uma conversa por se fazer?”, publicado no periódico Educação e Pesquisa (vol. 46), um debate considerado, até então, não hegemônico em território geográfico. Para tanto, parte-se das preocupações e desafios presentes no campo da educação, sondando a potência do pensamento espacial não-representacional de Doreen Massey (2015) a partir de uma cartografia do campo curricular. A conversa, com dois pares de mãos angustiadas, quis moldar do barro não o homem divino, mas o próprio barro, que se chama aqui de espaço. Do chão, da parede, do muro, das grades, do banheiro à falta dele, dos corredores de cimento, do espaço produzido, sentido e experimentado pela/na/com a escola, movimentando-se a favor de um reposicionamento do espaço como categoria analítica e teórica de envergadura no que tange à escrita curricular.
Como efeito, e também alinhado aos recentes debates do campo curricular de matriz pós-estrutural, espera-se contribuir teoricamente com formulações preocupadas e atentas ao signo da diferença na Educação. Neste estudo, traz-se, talvez, uma das grandes preocupações de Doreen Massey (2015), a saber: o espaço como condição de pensamento. Já adiantando, leitora e leitor, que o texto herda uma inquietação externa ao campo curricular. Porém, acredita-se que aquela preocupação da geógrafa britânica é um chamamento para intrigar os interpretadores (as) do campo do currículo.
Quem sabe, com esse texto, seja possível defender uma convocação espacial para futuras conversas curriculares que carregam, tal como Rita Segato (2018, p. 13) exclama, o “direito à desobediência”. Se vida e Educação se conjugam intimamente, reimaginar o que se chama de espaço pode ser uma forma de reimaginar o que se entende por vida, repensando, do mesmo modo, o imaginário educacional.
Referências
MASSEY, D. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015.
SEGATO, R. Contra-pedagogías de la crueldad. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2018.
VEIGA-NETO, A. De geometrias, currículo e diferenças. Educ. Soc. [online]. 2002, vol. 23, no. 79, pp. 163-186, ISSN: 1678-4626 [viewed 10 September 2020]. DOI: 10.1590/S0101-73302002000300009. Available from: http://ref.scielo.org/tmcc2d
MACEDO, E. Currículo como espaço-tempo de fronteira cultural. Rev. Bras. Educ. [online]. 2006, vol. 11, no. 32, pp. 285-296, ISSN: 1809-449X [viewed 10 September 2020]. DOI: 10.1590/S1413-24782006000200007. Available from: http://ref.scielo.org/nhjbn5
Para ler o artigo, acesse
ROCHA, A. A. and MEDEIROS, R. S. Currículo e espaço – uma conversa por se fazer?. Educ. Pesqui. [online]. 2020, vol. 46, e219733, ISSN: 1678-4634 [viewed 10 September 2020]. DOI: 10.1590/s1678-4634202046219733. Available from: http://ref.scielo.org/sq7xdh
Links externos
Educaçao e Pesquisa – EP: www.scielo.br/ep
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