Como bebês nascidos pré-termo e a termo reagem diante da indisponibilidade materna?

Taís Chiodelli, psicóloga, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru, São Paulo, Brasil.

Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues, professora, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru, São Paulo, Brasil.

Veronica Aparecida Pereira, professora, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil.

Um procedimento experimental desenvolvido por Tronick, Als, Adamson, Wise e Brazelton (1978) no final da década de 70 mostrou que bebês, mesmo muito pequenos (entre um a quatro meses de idade), são capazes de identificar alterações na interação com a mãe e reagir de forma a restabelecer a interação e regular suas emoções. Este procedimento possibilitou a análise desses resultados ao expor a mãe e o seu bebê a uma interação de nove minutos dividida em três episódios de três minutos. Nos três primeiros minutos a mãe brincou com seu bebê sem a mediação de objetos, utilizando-se de gestos, palavras, toques e outras situações lúdicas. No segundo episódio a mãe interrompeu a interação, mantendo apenas contato visual com seu bebê. No terceiro episódio a mãe voltou a interagir com o bebê, restabelecendo a comunicação. A indisponibilidade da mãe no segundo episódio representou uma condição de desconforto para o bebê e foram observadas reações variadas, como afastar o olhar do rosto da mãe, levar as mãos à boca para se autoconfortar, aumento de comportamentos de protestos (verbalizações negativas, expressão facial negativa, choramingo), choro, e diminuições de sorrisos e contato visual. Esse procedimento mostrou que o bebê é um parceiro ativo na interação com sua mãe, desempenhando um papel importante na ocorrência e manutenção da mesma, sendo capaz de apresentar respostas que auxiliam na sua regulação emocional (Beeghly, & Tronick, 2011, Tronick, 1989).

Imagem: Unsplash.

Quando são considerados os bebês que nasceram pré-termo, ou seja, com menos de 37 semanas de gestação, será que as alterações na interação com a mãe também são observadas? Como os bebês responderiam em uma situação de desconforto? Na retomada da interação voltam a interagir com suas mães? Essas perguntas fazem sentido ao considerar que estes bebês tiveram experiências no início da vida que os diferenciaram dos bebês que nasceram a termo sem qualquer intercorrência, por exemplo, internação hospitalar, cuidados médicos invasivos, contato limitado com a mãe e outros cuidadores, aleitamento materno restrito ou ausente, menor possibilidade de contato pele-a-pele, respostas ao ambiente reduzidas por conta de seu aparato biológico ainda estar em desenvolvimento, e demais experiências que podem contribuir para o comprometimento do seu desenvolvimento inicial e para a interação que é estabelecida com o seu cuidador.

Para verificar se há diferenças ou similaridades nas respostas que os bebês pré-termo e nascidos a termo apresentam ao procedimento experimental descrito, e como cada bebê se comporta ao longo dos episódios, foi desenvolvido o estudo Face-to-Face Still-Face: Comparison between interactive behaviors of full-term and preterm infants com 60 bebês (30 nascidos a termo e 30 pré-termo) com idade entre três a quatro meses, corrigida para os bebês pré-termo. O estudo foi desenvolvido em uma universidade pública do interior do estado de São Paulo em parceria com investigadores portugueses, fruto de uma dissertação de mestrado. Os resultados mostraram que os bebês dos dois grupos identificaram as alterações na interação com a mãe e conseguiram regular-se na ausência de resposta da mãe. Os bebês nascidos a termo apresentaram mais comportamentos de autoconforto na interação com a mãe do que os pares pré-termo, sugerindo que suas mães estavam com dificuldades para auxiliá-los a restabelecer a interação. Os achados contribuem para o planejamento de intervenções com as mães que visem auxiliar os seus bebês nos processos de regulação emocional.

Referências

BEEGHLY, M. and TRONICK, E. Early resilience in the context of parent–infant relationships: A social developmental perspective. Current Problems in Pediatric and Adolescent Health Care [online]. 2011, vol.41, no.07, pp.197-201 [viewed 13 October 2021]. https://doi.org/10.1016/j.cppeds.2011.02.005. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1538544211000502?via%3Dihub

TRONICK, E., et al. The infant’s response to entrapment between contradictory messages in face-to-face interaction. Journal of the American Academy of Child Psychiatry [online]. 1978, vol.17, no.01, pp.1-13 [viewed 13 October 2021]. https://doi.org/10.1016/S0002-7138(09)62273-1. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0002713809622731

TRONICK, E. Z. Emotions and emotional communication in infants. American Psychologist [online]. 1989, vol.44, no.02, pp.112-119 [viewed 13 October 2021]. https://doi.org/10.1037/0003-066X.44.2.112. Available from: https://doi.apa.org/doiLanding?doi=10.1037%2F0003-066X.44.2.112

Para ler o artigo, acesse

CHIODELLI, T., et al. Face-to-Face Still-Face: Comparison between Interactive Behaviors of Full-Term and Preterm Infants. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2021, vol.31 [viewed 13 October 2021]. https://doi.org/10.1590/1982-4327e3102. Available from: http://ref.scielo.org/kb36qh

Links externos

Paidéia (Ribeirão Preto) – PAIDEIA: www.scielo.br/paideia

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

CHIODELLI, T., RODRIGUES, O. M. P. R. and PEREIRA, V. A. Como bebês nascidos pré-termo e a termo reagem diante da indisponibilidade materna? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/10/13/como-bebes-nascidos-pre-termo-e-a-termo-reagem-diante-da-indisponibilidade-materna/

 

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