Como mães enfrentam a internação dos seus bebês em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal?

Fabiana Pinheiro Ramos, Professora, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil

Sônia Regina Fiorim Enumo, Professora, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, Brasil

Kely Maria Pereira de Paula, Professora Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil

Três pesquisadoras em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo investigaram como 25 mães enfrentaram a internação de seus bebês em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) de um hospital público da Região Metropolitana de Vitória, ES, do momento da notícia até depois da alta hospitalar (RAMOS, 2012; RAMOS; ENUMO; PAULA, 2017). Em estudo publicado em Paidéia (v. 27, n. 67, 2017), as autoras usaram uma metodologia integrativa de dados de entrevistas, questionários e escalas para analisar o processo de enfrentamento (coping) em uma perspectiva inovadora. Procuraram capturar em tempo real e de forma longitudinal como essas mães lidaram com essa situação estressante ao longo dos primeiros meses durante e após a hospitalização dos filhos, por terem nascidos prematuros e com baixo peso. De forma inédita nos estudos da área, especialmente no país, aplicaram uma abordagem motivacional e desenvolvimentista para analisar o processo de enfrentamento em três momentos, no nascimento, durante a hospitalização e após a alta hospitalar. Foi possível, assim, descrever como a forma de lidar com esses estressores mudou ao longo do tempo, e como as mães regularam seus comportamentos, suas emoções e pensamentos ao se sentirem ameaçadas ou desafiadas em suas necessidades psicológicas básicas de relacionamento, de competência e de autonomia, segundo a Teoria Motivacional do Coping (RAMOS; ENUMO; PAULA, 2015; SKINNER; ZIMMER-GEMBECK, 2007, 2016). Esses dados subsidiaram uma proposta de intervenção breve, em grupo, durante a internação.

Destacamos os cuidados que a equipe de saúde deve ter com o momento da notícia de internação do bebê, bem como a primeira visita materna à UTIN. São momentos de grande impacto emocional, com reações de tristeza e medo por parte das mães. Contudo, quanto mais tempo os bebês permaneceram internados, mais as mães conseguiram lidar com a situação de forma adaptativa. Há, porém, mães em situação de maior vulnerabilidade ao estresse, que também exigem mais atenção psicossocial, como aquelas com mais de um filho e as que trabalham fora de casa, devido à sobrecarga de tarefas e preocupações.

Contrariando nossas expectativas, essas mães mostraram mais respostas adaptativas, com regulação emocional, principalmente mediadas por crenças religiosas, mesmo considerando as duas mães cujos bebês morreram. Após a alta hospitalar, predominaram estratégias de resolução de problemas e houve aumento de estratégias de busca de suporte social. Essas ações de autorregulação emocional, cognitiva, comportamental e motivacional sob condições de estresse psicológico, como é o caso da internação de um bebê em UTIN, devem ser identificadas pelos profissionais de saúde. As formas de enfrentamento do estresse são fundamentais para a superação das adversidades e a construção de uma trajetória de desenvolvimento saudável.

A pesquisa foi realizada com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (Proc. N. 485564/2006-8, 481483/2009-8; bolsa de doutorado para a primeira autora Proc. N. 142308/2009-9; bolsa de produtividade em pesquisa em nível 1B para a segunda autora).

Referências

RAMOS, F. P. Uma proposta de análise do coping no contexto de grupo de mães de bebês prematuros e com baixo peso na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Tese (Doutorado), Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2012. Available from: http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_3518_Tese%20Fabiana%20Pinheiro%20Ramos%20vers%E3o%20final%2016%2006%202013.pdf

RAMOS, F. P., ENUMO, S. R. F. and PAULA, K. M. P. Teoria Motivacional do Coping: uma proposta desenvolvimentista de análise do enfrentamento do estresse. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2015, vol.32, n.2, pp.269-279. [viewed 9 November 2017]. ISSN 0103-166X. DOI: 10.1590/0103-166X2015000200011. Available from: http://ref.scielo.org/dhgtsg

RAMOS, F. P., ENUMO, S. R. F. and PAULA, K. M. P. Maternal Coping with Baby Hospitalization at a Neonatal Intensive Care Unit.Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2017, vol.27, n.67, pp.10-19. [viewed 9 November 2017]. ISSN 0103-166X. DOI: 10.1590/1982-43272767201702. Available from: http://ref.scielo.org/vkzhbj

SKINNER, E. A., ZIMMER-GEMBECK, M. J. The development of coping. Annual Review of Psychology, 2007, v. 58, p. 119-144. [viewed 13 October 2017]. ISSN: 0066-4308  DOI: 10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. Avaliable from: http://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705

SKINNER, E. A.; ZIMMER-GEMBECK, M. J. The development of coping – Stress, neurophysiology, social relationships and resilience during childhood and adolescence. Switzerland: Springer International Publishing, 2016.

Para ler os artigos, acesse

Paidéia (Ribeirão Preto) vol.27 no.67 Ribeirão Preto May/Aug. 2017

Link externo

Paidéia – www.scielo.br/paideia

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

RAMOS, F. P., ENUMO, S. R. F. and PAULA, K. M. P. Como mães enfrentam a internação dos seus bebês em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2017 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/11/10/como-maes-enfrentam-a-internacao-dos-seus-bebes-em-unidade-de-terapia-intensiva-neonatal/

 

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