Celina Nunes de Alcântara, Professora, editora associada, Porto Alegre, RS, Brasil
Abordagens decoloniais tornaram-se temática incontornável para a pesquisa nas artes (PALERMO, 2009), na educação, nas letras e em todas as áreas no campo das ciências humanas (MIGNOLO, 2015). Ao partir de um novo olhar epistemológico, o decolonial não apenas reivindica posições pós-coloniais para os problemas que afligem o mundo contemporâneo, mas também, ao fazer isso, evidencia inseparavelmente sua implicação direta com a edificação violenta de um padrão de poder instaurado com o colonialismo moderno. Em vista disso, observa-se a crescente expansão de estudos que procuram dar visibilidade e protagonismo a vozes excluídas, marginalizadas e, sobretudo, colocadas (não de forma ingênua) histórica e politicamente em bordas hierarquicamente arranjadas para que determinados grupos possam falar em detrimento de outros.
Como propõem os estudos que se dedicam à temática, trata-se de entender – muito mais do que o colonialismo em si (como a soberania de um povo ou de uma nação sobre a outra) – os efeitos e as problemáticas da colonialidade, da construção da subalterização, da invisibilidade, da desvalorização, da negação e, no limite, do rechaço ao outro, ao não-eurocêntrico.
As vozes decoloniais emergem, com efeito, não dos centros hegemônicos, mas dos limites, das periferias, “atacando” os saberes/poderes historicamente instituídos pelo longo curso de imposição colonial de que todos nós fomos e somos atores. Trata-se, de um lado, da luta pelo reconhecimento e reconfiguração geopolítica de outros saberes, outros conhecimentos e outras práticas, distanciando-se daquelas tomadas há muito tempo como verdadeiras; e, de outro, das lutas concretas direcionadas à construção de um ethos que possa ser sustentado por outras bases: pela legitimação cultural, pelo fortalecimento de uma racionalidade contra hegemônica, pela produção teórica (e, por isso, política), de narrativas crivadas pelo jugo da responsabilização.
A cena contemporânea, a Educação, a teoria, a estética, as poéticas artísticas não têm sido indiferentes a essas questões. Ao contrário, têm produzido no interior da criação da pedagogia e do pensamento, muitas rupturas atribuídas às posições decoloniais.
Em função disso, não se pensa apenas uma troca do colonial pelo decolonial, mas, sobretudo, no movimento contínuo e dinâmico de reposicionar-se, garantindo assim a multiplicidade (e heterogeneidade) das práticas que proliferam na cena contemporânea, nos mais vastos campos de estudos e pesquisas, como já dito, que emergem nas áreas das artes, da educação, das letras e outras.
No vídeo, a professora Celina Alcântara, nossa editora associada, comenta sobre os artigos que compõem este número especial.
Referências
MIGNOLO, W. Habitar la frontera: sentir y pensar la descolonialidad (Antología, 1999-2014). Barcelona: CIDOB/Universidad Autónoma de Ciudad Juárez, 2015.
PALERMO, Z. Arte y estética en la encrucijada decolonial. Buenos Aires: Del Signo, 2009.
Para ler os artigos, acesse
Rev. Bras. Estud. Presença vol.8 no.4 Porto Alegre out./dez. 2018
Link externo
Revista Brasileira de Estudos da Presença – RBEP: www.scielo.br/rbep
Sobre Celina Nunes de Alcântara
Celina Nunes de Alcântara é doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da mesma universidade. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em formação do ator e do professor de Teatro, atuando principalmente nos seguintes temas: apresentação de espetáculo, atuação, performance e relações étnico-raciais, teatro, voz. E-mail: celinanalcantara@gmail.com
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