O que sabemos sobre Residências em Saúde?

Rafael Bruno Silva Torres, Mestre em Saúde Pública (Universidade Federal do Ceará), Aluno do programa “Addictions and Mental Health” (Durham College, ON, Canadá)

Ao se discutir sobre possibilidades de Educação Permanente em Saúde, as Residências em Saúde se mostram como relevante processo formativo e um dos eixos de ação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2004). A vivência destes programas se configura como uma forma de possibilitar a busca pela integralidade em saúde, participando de um processo formativo que se baseia na construção articulada de diferentes profissões da saúde, buscando construir um saber comum, onde se agreguem as contribuições dos diferentes núcleos profissionais (SALVADOR et al., 2011).

No Brasil, o aumento no número de programas nos últimos anos nos leva a pensar sobre a importância que tais programas de pós-graduação vêm tendo na formação do profissional de saúde brasileiro. A partir disto, o artigo “State of the art of integrated, multiprofessional and in professional Health area residencies”, publicado no periódico Interface: Comunicação, Saúde e Educação (v. 23), apresenta uma revisão integrativa de literatura que objetivou analisar o estado da arte das Residências Integradas, Multiprofissionais e em Área Profissional em Saúde, no período de 2006 a 2016, nas línguas portuguesa, inglesa e hispânica.

Os dados foram analisados a partir de 109 artigos científicos oriundos da África, Brasil, Canadá, Espanha e EUA. Como ferramenta de análise foi utilizada a Análise Temática, que consiste em descobrir os núcleos de sentido de uma comunicação (BARDIN, 2009; MINAYO, 2013). O estudo é oriundo da dissertação de mestrado do autor principal (TORRES, 2017). Neste artigo, são discutidas as dimensões temáticas que abordam os sentidos atribuídos e a organização didática dos programas de Residência em Saúde.

Os sentidos atribuídos às Residências em Saúde se dão a partir de muitas percepções: dos coordenadores de programas, das instituições de ensino, dos preceptores, dos tutores, dos professores e dos residentes. Evidenciamos que a principal motivação para realizar a Residência é a necessidade de especialização exigida pelo mercado de trabalho. Nas experiências internacionais, os programas são uniprofissionais em sua maioria, e têm um caráter complementar à graduação, dando ênfase à formação para pesquisa e docência. No Brasil, as Residências em Saúde representam projetos de educação pelo trabalho para superação de limitações da graduação.

Sobre a organização pedagógica das Residências, destacam-se a utilização de metodologias ativas de aprendizagem, como a problematização e o trabalho em pequenos grupos. As funções estruturantes do preceptor e tutor foram destacadas, bem como a articulação dos programas com as realidades regionais. Como metodologia de avaliação dos residentes, foi mencionado o uso do portfólio reflexivo e outros modelos de avaliação mais tradicionais.

A formação em saúde ainda é um “nó crítico” das propostas que apostam na mudança do modelo assistencial em saúde no Brasil, e destacamos alguns desafios para o processo de ensino-aprendizagem nos contextos concretos do SUS: falta de diálogo entre profissionais, preceptores e tutores; falta de preparação para o trabalho coletivo, inclusive, para a produção de conhecimento; falta de profissionais com perfil e disponibilidade para a preceptoria/tutoria. Além de que, é comum, na área da saúde, a tendência de profissionais atuarem de forma isolada, dissociada e fragmentada.

Contudo, avaliamos que as Residências em Saúde têm um potencial enorme de (trans)formação dos trabalhadores de saúde, e, para tanto, devem ser fruto de contínuas pesquisas, e alvo de investimentos dos Ministérios da Saúde e Educação, em busca de contínuo aprimoramento dos recursos humanos para o SUS.

Referências

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 198, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 13. ed. São Paulo: Hucitec, 2013.

SALVADOR, A. S. et al. Construindo a multiprofissionalidade: um olhar sobre a residência multiprofissional em saúde da família e comunidade. Rev Bras Cienc Saude., v. 15, n. 3, p. 329-338, 2011. e-ISSN: 2317-6032 [viewed 2 February 2019]. Available from: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/rbcs/article/view/10834

TORRES, R. B. S. Residências integradas, multiprofissionais e em área profissional em saúde: uma revisão integrativa. 2017. 170 f. Dissertação de mestrado em Saúde Pública — Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2017.

Para ler o artigo

TORRES, R. B. S. et al. State of the art of integrated, multiprofessional and in professional Health area residencies. Interface (Botucatu), v. 23, e170691, 2019. ISSN: 1414-3283 [viewed 2 February 2019]. DOI: 10.1590/interface.170691. Available from: http://ref.scielo.org/fvj8fn

Link externo

Interface – Comunicação, Saúde, Educação – ICSE: www.scielo.br/icse/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

TORRES, R. B. S. O que sabemos sobre Residências em Saúde? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/03/15/o-que-sabemos-sobre-residencias-em-saude/

 

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