Leandro da Silva Barcellos, doutorando em Educação na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil.
Geide Rosa Coelho, Doutor em Educação, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil.
Em 2020, as medidas de distanciamento social, em virtude da pandemia do novo coronavírus, trouxeram desafios inéditos para o campo da Educação e da pesquisa acadêmica. Para professoras e professores que também eram discentes em programas de Mestrado Profissional, destinados à formação continuada no exercício da atividade laboral, desafios da vida profissional, acadêmica e pessoal se somaram no caótico cenário pandêmico.
Na época, vivíamos um tortuoso período de necropolítica, liderado pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, em que o número de vítimas da COVID-19 crescia com o negacionismo científico. Além disso, existiam incertezas sobre a realização do Exame Nacional do Ensino Médio, a suspensão do calendário acadêmico nas Instituições de Ensino Superior, a implementação do ensino remoto emergencial e a desigualdade no acesso aos meios necessários para realizá-lo, etc. Tudo isso em meio a discursos de tom humanitarista, mas que mantinham prazos e cobranças normalmente.
Acompanhávamos as publicações da Revista FAPESP, que divulgava notícias sobre como pesquisadores lidavam com os desafios do período pandêmico, e do grupo Parent in Science, liderado pela professora Doutora Fernanda Staniscuaski, que denunciou que as mães pesquisadoras estavam sendo afetadas de maneira diferente pelos impactos da pandemia.
O objetivo da pesquisa foi analisar os desafios enfrentados por professores-mestrandos nas dimensões pessoal, profissional e acadêmica durante a pandemia do novo coronavírus. Trata-se de um estudo qualitativo e exploratório realizado no primeiro semestre de 2020. Os dados foram produzidos e coletados no início da pandemia por meio de um questionário misto respondido por 22 estudantes do PPGEnFis/UFES. A interpretação pautou-se na Análise Textual Discursiva.
Imagem: gerada pelos autores com a ferramenta DALL-E.
Quatro dos 22 participantes da pesquisa indicaram que o período pandêmico de 2020 estava favorável a produtividade acadêmica, porque, de maneira geral, a suspensão das aulas presenciais e a demora em se estabelecer um sistema de ensino remoto, fez com que tivessem mais tempo para realizar tarefas do mestrado.
Os outros 18 participantes sinalizaram para queda na produtividade acadêmica devido: aos desafios da comunicação remota e assíncrona com orientador e grupo de pesquisa; a dificuldade de implementação de plataformas para a realização do ensino remoto na escola básica, oriunda da falta de formação adequada para lidar com elas; aos impactos na saúde mental, relacionados ao medo de contrair uma doença possivelmente letal; a maior demanda de trabalho doméstico, pois as pessoas passavam mais tempo em casa; e a sobrecarga no cuidado familiar e parental, porque as crianças em tenra idade não tinham aulas remotas e as mais velhas exigiam acompanhamento.
Neste último aspecto, percebemos que as mulheres foram mais duramente afetadas, sendo as principais responsáveis pelo trabalho doméstico e suporte aos filhos em idade escolar. Vale destacar que, historicamente, a Física é um campo predominantemente masculino, e os resultados ratificam a importância de se observar a variável gênero no que tange os desafios da Pós-Graduação.
Os resultados do estudo foram divulgados em uma transmissão ao vivo (live) organizada pela coordenação do PPGEnFis/UFES. Tal ato fez parte de uma série de encontros virtuais semanais, planejados pelo referido programa, para manter os mestrandos (dentre eles os respondentes desta pesquisa) envolvidos com a Pós-Graduação. Conhecer os estudantes e os desafios que eles enfrentavam naquele momento, ainda que parcialmente, trouxe subsídios para o desenvolvimento de ações pertinentes para o cuidado pessoal e acadêmico de mestrandos e mestrandas, além de contribuir para as decisões metodológicas para o ensino remoto emergencial que foi estabelecido na Universidade em setembro de 2020.
Hoje vivemos um momento diferente em relação ao período em que a pesquisa foi realizada. Ainda estamos conhecendo a totalidade dos impactos da pandemia e o artigo divulgado neste press release apresenta contribuições para entendermos esse momento ímpar, em que, ao contrário do que dizem os jargões, não saímos mais fortes. O negacionismo científico revela-se no crescimento de movimentos antivacina e no avanço da extrema-direita, de modo que não podemos descartar a possibilidade de novas pandemias em virtude do modo de produção da vida atual.
BARCELLOS, L.S. and COELHO, G.R. Desafios de professores-mestrandos no equilíbrio entre vida pessoal, acadêmica e profissional durante a pandemia [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/06/20/professores-e-mestrandos-na-pandemia/
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