Passado, presente e futuro das Amazônias em 125 anos de história do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas

Jimena Felipe Beltrão, Jornalista, Ph.D. em Ciências Sociais (University of Leicester, Reino Unido), editora científica do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, PA, Brasil

Silvia de Souza Leão, Jornalista, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia (Unama), Belém, PA, Brasil

O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (BMPEG. Ciências Humanas) apresenta um saldo positivo ao dar visibilidade a múltiplas investigações dos autores mais experientes e dos mais jovens. Com dois dossiês publicados — um sobre linguística e outro sobre arqueologia — o periódico se prepara para mudanças editoriais em 2020 mantendo padrões que lhe conferiram conceito mais alto entre os extratos do Qualis/Capes. São até 200 submissões ao ano e três edições com uma equipe enxuta e conhecedora da responsabilidade.

Como 2019 é o Ano Internacional das Línguas Indígenas, celebrado por iniciativa da UNESCO, em seu volume 14, número 1, o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi trata do tema ao apresentar dossiê sobre “Novas perspectivas na terminologia de parentesco nas línguas Tupi e Caribe”. Organizado por Joshua Birchall, do Museu Paraense Emílio Goeldi e Fiona Jordan, da University of Bristol, Reino Unido, o conjunto de oito artigos destaca em abordagem interdisciplinar o que, segundo o Editor Associado do Boletim, Hein van der Voort estabelece “conexão entre língua, cultura e história de uma maneira ainda pouco vista, tanto na linguística quanto na antropologia”. A proposta é de uma nova visão sobre os sistemas de parentesco como forma de “preservação do conhecimento presente nos modos diversos de organizar as relações de parentesco,” conclui van der Voort.

São quase cinco décadas de registros e pesquisas para preservar línguas indígenas da Amazônia fruto do trabalho de investigação que leva a chancela do Museu Emílio Goeldi. Documentos em formatos de áudio e vídeo compõem acervo de conhecimento linguístico e das tradições orais de mais de 80 línguas indígenas num registro que conta com a colaboração direta dos povos indígenas para quem o material é acessível. Colaborador do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Museu Goeldi desenvolveu projeto piloto em Rondônia para determinar a situação atual de todas as línguas do Brasil.

A edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas que marcou o início das comemorações dos 125 anos do periódico apresenta outros três artigos que tratam de economia extrativista, patrimônio indígena e terra preta arqueológica.

O primeiro artigo, visa entender a economia em torno da amêndoa do babaçu para não só para fortalecê-la, mas “também para reforçar a conservação dos babaçuais e proporcionar melhores condições de vida para as comunidades agroextrativistas” (p. 169) é o que propõe Roberto Porro, em “A economia invisível do babaçu e sua importância para meios de vida em comunidades agroextrativistas”. O autor apresenta dados que comprovam “a importância econômica de produtos derivados da palmeira de babaçu em 200 comunidades agroextrativistas no vale do rio Mearim, no Maranhão, a principal região produtora” (p. 169).

No segundo artigo, a ressignificação e redimensionamento de exposição de acervos indígenas em museus são temas no artigo “Patrimônios indígenas nos 80 anos do Museu das Missões: etno-história e etnomuseologia aplicada à imaginária missional”, de autoria de Jean Baptista e Tony Boita.  A partir de uma perspectiva que privilegia princípios como o da “democratização de acervos, o estudo analisa a produção, a forma, o conteúdo e o consumo da imaginária missional ao tempo das missões indígeno-jesuíticas para revelar o não lugar indígena” (p. 189) em mostra de longa duração.

Por fim, em “Amazonian dark earths in the fertile floodplains of the Amazon River, Brazil: an example of non-intentional formation of anthropic soils in the Central Amazon region”, Macedo e coautores, identificaram os principais elementos químicos presentes em solos de várzea do rio Solimões. Numa temática em que não há consenso, os pesquisadores afirmam que a identificação de Terra Preta de Índio nessas áreas se constituí em “forte evidência da fertilização não intencional dos solos de várzea” (p. 207), o que contradiz teorias que justificam a ocupação humana dessas áreas com fins de cultivo agrícola, por exemplo.

Cenários da ocupação humana inicial de uma região central à sobrevivência da humanidade, a Amazônia, estão no dossiê publicado no volume 14, número 2 do periódico Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. A coletânea é fonte para os debates sobre o povoamento antigo da América, com estudos realizados no Brasil por pesquisadores nacionais e investigadores franceses. “Cenários e processos das primeiras ocupações humanas no Brasil: o papel da pesquisa arqueológica” propõe uma reflexão sobre o conhecimento disponível acerca do tema na atualidade ao discutir, “o papel da arqueologia e dos sítios arqueológicos brasileiros para o entendimento dos primeiros povoamentos das Américas (p. 259)” informa o arqueólogo Claide Moraes, organizador do dossiê, alertando, no entanto, que não se esgotaram “as possibilidades de atualização a respeito do que tem acontecido nas pesquisas sobre o povoamento e os sítios antigos do território brasileiro (p. 259). Para o pesquisador, o principal é “pensar o passado do território brasileiro, a importância que isso tem para o presente, e que abra caminhos para um futuro de novos debates e ideias” (p. 261).

Ainda na mesma edição, um conjunto de artigos sobre antropologia, sociologia, história, museologia e saúde, apresenta a diversidade de temas que o periódico abrange. O BMPEG. Ciências Humanas edita dossiês e tem seções de artigos, notas, debates, memória e resenhas.

A publicação encontra-se em fase de mudanças para aderir à ainda outras condutas coerentes com a ciência aberta. Assim, a partir de 2020, serão adotadas medidas para permitir maior agilidade e transparência, ao mesmo tempo em que promovem a adequação do periódico às mais recentes tendências da comunicação científica. Fluxo contínuo de publicação, adoção de norma bibliográfica de caráter internacional – a da American Psychological Association (APA), e publicação das responsabilidades dos autores são as principais alterações. Além das recomendações de indexadores, estudos fundamentaram as decisões. Em três anos foram conduzidas investigações para construir um diagnóstico com vistas a ajustes à política editorial que passaram a ser necessários diante de novos cenários e desafios impostos, assim como das boas condutas de produção editorial (BELTRÃO; SILVA, 2018, 2019; BELTRÃO et al., 2019).

Referências

BAPTISTA, J. and BOITA, T. Patrimônios indígenas nos 80 anos do Museu das Missões: etno-história e etnomuseologia aplicada à imaginária missional. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum., v. 14, n. 1, p. 189-205, 2019. ISSN: 1981-8122 [viewed 9 September 2019]. DOI: 10.1590/1981.81222019000100012. Available from: http://ref.scielo.org/zyqj82

BELTRÃO, J. F. and SILVA, T. da C. Rumo à revisão da política editorial do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. PontodeAcesso, v. 12, n. 3, p. 28-50, 2018. ISSN: 1981-6766 [viewed 9 September 2019]. DOI: 10.9771/rpa.v12i3.26920. Available from: https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaici/article/view/26920

BELTRÃO, J. F. and SILVA, T. da C. De um sistema nacional à adoção de padrões internacionais: por uma nova norma bibliográfica. Biblionline, Paraíba, v. 15, n. 1, p. 136-147, trim. 2019. ISSN: 1809-4775 [viewed 9 September 2019]. DOI: 10.22478/ufpb.1809-4775.2019v15n1.43743. Available from: https://periodicos.ufpb.br/index.php/biblio/article/view/43743

BELTRÃO, J. F., et al. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas: uma análise bibliométrica no período de 2006 a 2015. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v. 24, n. 1, p. 177-196, 2019. ISSN: 1414-0594 [viewed 9 September 2019]. Available from: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1532/pdf

BIRCHALL, J. and JORDAN, F. M. Dossier “New perspectives on kinship terminology in Tupian and Cariban languages”. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum., v. 14, n. 1, p. 11-14, 2019. ISSN: 1981-8122 [viewed 9 September 2019].  DOI: 10.1590/1981.81222019000100002. Avaliable from: http://ref.scielo.org/fk8ry6

MACEDO, R. S. et al. Amazonian dark earths in the fertile floodplains of the Amazon River, Brazil: an example of non-intentional formation of anthropic soils in the Central Amazon region. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum., v. 14, n. 1, p. 207-227, 2019. ISSN: 1981-8122 [viewed 9 September 2019]. DOI: 10.1590/1981-81222019000100013. Available from: http://ref.scielo.org/hgf4yn

MORAES, C. P. O papel da arqueologia brasileira na discussão sobre os cenários e os processos das primeiras ocupações humanas das Américas. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum., v. 14, n. 2, p. 259-262, 2019. ISSN: 1981-8122 [viewed 9 September 2019]. DOI: 10.1590/1981.81222019000200002. Available from: http://ref.scielo.org/h87xh3

PORRO, R. A economia invisível do babaçu e sua importância para meios de vida em comunidades agroextrativistas. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum., v. 14, n. 1, p. 169-188, 2019. ISSN: 1981-8122 [viewed 9 September 2019].  DOI: 10.1590/1981.81222019000100011. Available from: http://ref.scielo.org/54xmxc

Link externo

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas – BGOELDI: www.scielo.br/bgoeldi/

Linguística do Museu Paraense Emílio Goeldi

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

BELTRÃO, J. F. and LEÃO, S. S. Passado, presente e futuro das Amazônias em 125 anos de história do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/09/27/passado-presente-e-futuro-das-amazonias-em-125-anos-de-historia-do-boletim-do-museu-paraense-emilio-goeldi-ciencias-humanas/

 

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