Jovens negros e seu vínculo com o Centro de Atenção Psicossocial infantojuvenil (CAPSij)

Bruna de Paula Candido, Pós-graduanda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (Mestrado), Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE-USP), São Paulo, SP, Brasil.

Logo Interface - Comunicação, Saúde e Educação: um retangulo branco com bordas laranjas e duas linhas em espiral, uma laranja e outra preta.O artigo Atenção à Saúde Mental de crianças e adolescentes negros e o racismo aborda quais são as assistências prestadas às crianças e aos adolescentes negros de um serviço de saúde mental público na modalidade infantojuvenil, chamado Centro de Atenção Psicossocial infantojuvenil (CAPSij).

Os CAPSij são responsáveis por oferecer o acolhimento e assistência às crianças e aos adolescentes com transtornos mentais graves e/ou em abuso de álcool e outras drogas, além de suas famílias/responsáveis de forma que sejam assegurados que não haja discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno e possam receber os cuidados terapêuticos considerando suas individualidades, sendo a meta a autonomia e contratualidade.

Pensando nas desigualdades raciais (re)produzidas no Brasil e os estigmas dos sujeitos que estão em sofrimento mental, este estudo se propôs a conhecer o processo de cuidado das crianças/adolescentes negras que estão em sofrimento psíquico, identificando ações dos profissionais de saúde no que se refere à identificação da discriminação sofrida pelos usuários do serviço e do enfrentamento dos impactos do racismo.

O estudo foi realizado por alguns pesquisadores, professores e alunos do Grupo de Pesquisa Enfermagem e Políticas de Saúde Mental (GEnPSM) da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE-USP) e, também, contou com a colaboração de pesquisadores da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (CCD/SAÚDE/SP) e da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP).

Ilustração vetorizada. Uma família negra composta por uma mulher adulta e duas crianças. Os três estão sorrindo. A mãe abraça uma das crianças. Do lado direito, cinco corações coloridos. Fundo branco com círculo meio rosa, meio vermelho.

Imagem: Pixabay.

A coleta de dados foi realizada no CAPSij da Zona Norte de São Paulo em 2019 e a pesquisa foi publicada no periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação em 2022. Tal serviço foi escolhido pelo fato de que os próprios profissionais do CAPSij solicitaram este estudo aos pesquisadores no início de 2017. Participaram das entrevistas 18 profissionais do CAPSij que eram referência técnica de, pelo menos, uma criança e/ou adolescente negro. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, descritiva e exploratória, desenvolvido segundo os preceitos dos Critérios Consolidados para Relatos de Pesquisa Qualitativa (Coreq) e cumprindo todos os aspectos éticos.

Deste estudo, aponta-se dois grandes resultados: “Descrevendo o racismo e a discriminação sofrida pelas crianças e pelos adolescentes usuários do Capsij” e “O processo de cuidado no Capsij diante do sofrimento psíquico produzido pelo racismo”. No primeiro, é relatado que os agentes do ato discriminatório e/ou racista com as crianças e adolescentes negros são seus colegas, familiares e a polícia. O insulto, quando relatado pelo jovem, tende a ser sobre suas características fenotípicas, o que causa profundo sofrimento e, em sua maioria, acontece nas escolas em que frequentam.

Já no segundo resultado, o CAPSij trabalha diversas ações que possibilitem inseri-los positivamente na cultura negra geral (oferecer bonecas negras, ir aos museus afro da cidade, realizar festas, apresentar figuras públicas importantes, entre outros). É importante ressaltar que esta agenda antirracista necessita ocorrer além do mês de novembro (mês da consciência negra) e que o cuidado às crianças e adolescentes negros precisa sempre ser discutido e anotado no Projeto Terapêutico Singular (PTS).

Desta maneira, a prática do antirracismo nos cuidados às crianças e aos adolescentes negros e o aquilombamento dos espaços proporcionam a afirmação positiva destes sujeitos no mundo, também garantem que a assistência seja integral, universal e, principalmente, com equidade, possibilitando suas autonomias. Para além, no sentido macro, afirma a inclusão de novas políticas de saúde mental sob a vertente do racismo e suas iniquidades.

Por fim, como desafio do estudo, ressalta a coleta ser efetuada em um único serviço público de saúde mental, em um único território, não sendo a realidade dos diversos serviços de saúde mental oferecidos no Brasil. Além disso, por ser um serviço muito dinâmico e com alguns profissionais ausentes durante o período de coleta (licença-saúde e férias), as entrevistas foram mais curtas e objetivas.

Entretanto, é imprescindível que haja o agradecimento à toda equipe técnica que realizou as entrevistas e o estudo, aos profissionais do CAPSij que se disponibilizaram para receber e responder à pesquisa, à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), responsável pelo financiamento, ao periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação e à EE-USP. Sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas sobre o assunto, analisando e avaliando os processos de cuidado e os resultados dessas ações de combate à discriminação, nesse e em outros serviços de Saúde Mental.

Referências

BARROS S. Relatório técnico do diálogo deliberativo: o processo de cuidar em saúde mental da criança e do adolescente negro usuário do CAPSij. / Sônia Barros, Luis Eduardo Batista, Jussara Carvalho dos Santos, et al. São Paulo: EEUSP, 2020.

BARROS, S., BALLAN, C. and BATISTA L.E. Atenção psicossocial a crianças e adolescentes negros no SUS: Caderno de textos / Sônia Barros; Caroline Ballan e Luís Eduardo Batista (orgs.) São Paulo: EEUSP, 2021.

BATISTA, L.E.; et al. Aspectos da territorialização do cuidado em um CAPSij: estudo seccional. Research, Society and Development [online]. 2021, vol. 10, no. 10, e215101018848 [viewed 2 September 2022]. https://doi.org/https://doi.org/10.33448/rsd-v10i10.18848. Available from: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/18848

CANDIDO, B.P., et al. O quesito raça/cor no processo de cuidado em centro de atenção psicossocial infantojuvenil. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2022, vol. 56, e20210363 [viewed 2 September 2022]. https://doi.org/10.1590/1980-220X-REEUSP-2021-0363. Available from: https://www.scielo.br/j/reeusp/a/tZNb9qhvhcpxFWys4vHH33D/

SILVA, N.G., et al. O quesito raça/cor nos estudos de caracterização de usuários de Centro de Atenção Psicossocial. Saúde Soc. [online]. 2017, vol.26, no.1, pp.100-114 [viewed 2 September 2022]. https://doi.org/10.1590/S0104-12902017164968. Available from: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/vDZrSZQGxn589qfKjr8dgzg/

Para ler o artigo, acesse

BARROS, S., et al. Atenção à Saúde Mental de crianças e adolescentes negros e o racismo. Interface (Botucatu) [online]. 2022, vol. 26, e210525 [viewed 2 September 2022]. https://doi.org/10.1590/interface.210525. Available from: https://www.scielo.br/j/icse/a/sGnqjtFwzdJpdhrVGT7qFtf/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

CANDIDO, B.P. Jovens negros e seu vínculo com o Centro de Atenção Psicossocial infantojuvenil (CAPSij) [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2022 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2022/09/02/jovens-negros-e-seu-vinculo-com-o-centro-de-atencao-psicossocial-infantojuvenil-capsij/

 

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